ENVELHECIMENTO ATIVO E OS COMPORTAMENTOS SEGUROS EM SOCIEDADE

15 abril 2019
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Author :   António Costa Tavares
Costa Tavares, A. (2019). Envelhecimento ativo e os comportamentos seguros em sociedade. Revista Segurança Comportamental, 12, 8-12. GA, Lda. Lisboa. Portugal António Costa Tavares | Técnico Superior de ST. Docente, formador e consultor em matéria de SST. Quadro superior da Câmara Municipal de Cascais | antonio.tavares@cm-cascais.pt

Em Portugal, registaram-se mais de 2,1 milhões de idosos em 2017, o que equivale a cerca de 21% da população total no país. Segundo Euromonitor International os portugueses constituem a quinta população mais envelhecida do mundo. O processo de envelhecimento traz consigo, habitualmente, complicações diversas na saúde das pessoas, pelo que urge a importância crescente da prevenção e de novos comportamentos e hábitos de vida. Tendo este grupo de risco tendencialmente uma redução de mobilidade, uma das maiores preocupações, seja em casa ou na rua, são as quedas. São aqui apresentadas as medidas relacionadas não só com a mudança de comportamentos e hábitos do indivíduo tanto a nível físico, psicológico e social, mas também, nas condições habitacionais.

INTRODUÇÃO
A esperança média de vida em Portugal aumentou notavelmente e, com ela, regista--se um envelhecimento considerável da população.
Em Portugal, segundo dados da PORDATA, registaram-se mais de 2,1 milhões de idosos em 2017, o que equivale a cerca de 21 por cento da população total no país.
Já o recente estudo da consultora Euromonitor International (2017) apontou a população portuguesa como a quinta mais envelhecida do mundo.
O processo de envelhecimento traz consigo, habitualmente, complicações diversas na saúde das pessoas, pelo que urge a importância crescente da prevenção e de novos comportamentos de vida procurando melhorar a segurança e saúde de todos, nomeadamente dos mais idosos, considerados como grupo de risco.
Muitas vezes, as mudanças decorrentes da idade são percecionadas negativamente, sendo a pessoa idosa encarada como vulnerável, não só do ponto de vista físico, mas também do ponto de vista mental e social, considerada como dependente. É um mito que convém desmistificar, pois se forem adotados determinadas atitudes e comportamentos preventivos, o idoso poderá ter uma vida plena e saudável.
Considerando apenas a dimensão fisiológica do indivíduo, o comportamento assume-se como uma relação tripartida, pluridisciplinar e reversível entre o sistema biológico (coordenação motora), o meio ambiente (estímulos periféricos) e a consequente resposta neuromuscular. É importante fazer notar ao leitor que a adoção de um determinado comportamento face a outro, não se encontra cingida apenas à dimensão fisiológica.
Na história de vida do indivíduo nas suas variadas dimensões, estão claramente a montante fatores que podem ser facilitadores ou bloqueadores do bem-estar fisiológico, psicológico e social do indivíduo.
Tendo este grupo de risco tendencialmente uma redução de mobilidade, uma das maiores preocupações, seja em casa ou na rua, são as quedas. No entanto, as quedas são um fator comum a todos nós ao longo da vida! Desde a infância que o nosso cérebro é treinado para possuir reflexos de defesa contra quedas!
Com o aumento da idade, as respostas aos estímulos diminuem e os reflexos tornam-se mais lentos, aumentando a predisposição para o desequilíbrio e a queda.
As quedas em pessoas mais idosas, são atualmente uma das maiores preocupações pela frequência e pelas consequências na qualidade de vida daquela faixa etária.
O fato de cair, não faz parte do processo natural de envelhecimento. É considerado, portanto um evento multifatorial (indivíduo, condições climatéricas, tipo e condições de piso, baixa iluminação, etc.).

SINISTRALIDADE DA CÃMARA MUNICIPAL DE CASCAIS
Podemos com base em relatórios e sinistralidade (população idosa da Câmara Municipal de Cascais, em 2018, da divisão de Saúde e Segurança no Trabalho) afirmar que as quatro principais causas de quedas são:
Queda da pressão arterial após levantar da cama, no percurso para o trabalho (hipotensão arterial);
Tropeçamentos (quedas ao mesmo nível) em virtude do piso e obstáculos não visualizados na via de circulação. Os acidentes in itinere já são cerca de 10% do total de acidentes de trabalho da Câmara Municipal de Cascais;
Enfraquecimento músculo-esquelético, devido a muitos anos de trabalho em situações consideradas menos favoráveis face aos perigos de determinadas funções e à falta de medidas preventivas;
Utilização de calçado não apropriado.

QUEDAS: CONSEQUÊNCIAS FÍSICAS, FUNCIONAL E PSICOSSOCIAIS
A queda representa um grande trauma para a pessoa, pois simboliza uma situação de fragilidade, o que pode vir a ser sinónimo futuro de dependência.
As quedas na população mais velha são mais frequentes, e determinam complicações múltiplas que afetam negativamente a qualidade de vida dessas pessoas com consequências físicas, funcionais e psicossociais.
Consequências físicas:
Lesões nos tecidos orgânicos;
Fraturas (principalmente do fémur, seguido rádio e clavícula);
Imobilização e problemas respiratórios (incapacidade progressiva do sistema respiratório remover dióxido de carbono do sangue venoso e de adicionar oxigênio);

"Considerando apenas a dimensão fisiológica do indivíduo, o comportamento assume-se como uma relação tripartida, pluridisciplinar e reversível entre o sistema biológico (coordenação motora), o meio ambiente (estímulos periféricos) e a consequente resposta neuromuscular."

Hospitalização;
Lesões neurológicas (traumatismo encefálico);
Nível de atividade física reduzido, com consequências negativas sobre a saúde física em geral.
Consequências funcionais:
Limitação da mobilidade e na realização de atividades de casa;
Abandono de certas atividades;
Modificação dos hábitos de vida;
Dependência parcial ou total para atividades básicas do dia-a-dia.
Consequências psicossociais:
Medo de voltar a cair;
Sensação de impotência;
Desgaste emocional;
Depressão (uma doença ou um distúrbio afetivo, atingindo a autoestima, o sentimento de inferioridade, tristeza, pessimismo);
Diminuição da autoestima;
Vergonha de ficar dependente;
Menos otimismo em relação ao futuro.

Figura 1 - Consequências das quedas na vida social do idoso e familia

Figura 2 - Envelhecimento ativo - Necessidade de estimulação e intervenção

PREVENÇÃO E HÁBITOS SAUDÁVEIS
A prevenção é a melhor arma, sendo os hábitos saudáveis uma das medidas principais duma prevenção mais eficaz e eficiente. Para este efeito, as medidas apresentadas estão relacionadas não só com a mudança de comportamentos e hábitos do indivíduo tanto a nível físico, psicológico e social, mas também, com melhorias em condições habitacionais mais seguras:
1)Indivíduo tanto a nível físico, psicológico e social
Apostar numa alimentação mais saudável: ter em atenção a roda dos alimentos, com predominância, por exemplo, de alimentos à base de triptofanos que favorecem a estimulação da serotonina com consequente combate a situações passíveis de originar quadros de depressão e ansiedade no idoso, não esquecendo a vitamina D (com atenção à problemática dos raios UVA e B), como prevenção da osteoporose e da sarcopenia (perda de massa muscular);
Sensibilizar para a problemática do consumo de álcool, fármaco dependência, tabagismo e consumo elevado de café ou chá preto (estimulantes do SNC);
Estimular o consumo de vitamina C: poder antioxidante, para combater os radicais livres e formação de colagénio;
Estimular o idoso a andar de forma autónoma, com caminhadas progressivas e preferencialmente em grupo;
Estimulação sensorial com introdução de novos estímulos (formação, aulas, música, teatro, dança, canto coral, etc.), o bem--estar mental pode ser desta forma, obtido pelo equilíbrio emocional e a interação com outras pessoas;
Ensinar o idoso a se defender de uma queda (gerando autoconfiança);
Evitar utilizar roupas compridas que possam ser aprisionadas por móveis ou outras barreiras;
Ao subir e descer escadas dever--se-á subir degrau a degrau sempre com a mão no corrimão;
Dever-se-á utilizar calçado raso e preferencialmente em borracha;
Na via pública ter cuidado com os buracos da calçada, possuir sapatos rasos e em borracha;
Só atravessar a estrada nos semáforos com a certeza, porém de que as viaturas estão paradas.
2) Melhorias em condições habitacionais mais seguras
O objetivo é preparação da casa para enfrentar problemas de locomoção e desequilíbrio. Assim, são propostas as seguintes medidas:
Arrumação de móveis;
Colocação de corrimões;
Retirada de alcatifas e tapetes soltos;
Encapsulamento de cabos elétricos;
Ter iluminação de presença;
Colocação de objetos mais pesados nas prateleiras de baixo;
Substituição nas casas de banho dos cortinados por polibans em PVC;
Ter uma lanterna sempre à mão;
Ter sempre à mão, perto do telefone ou em local bem visível os números de emergência bem como dos familiares diretos;
As casas de banho deverão em caso de locomoção diminuta, ter barras de apoio, quer a nível do sanitário, quer a nível do duche e lavatório;
Use, preferencialmente, gel de banho com doseador em vez de sabonete;
Evitar ter tapetes no duche ou se os colocar, devem ter ventosas que agarrem com maior estabilidade;
Possuir um relógio despertador com números grandes;
No seu quarto coloque uma cadeira ou poltrona de apoio. Vai ser muito útil quanto tiver que se vestir e calçar;
Ajuste a altura da cama de modo a que, sentado, consiga colocar os pés bem assentes no chão;
Use cobertores leves e quentes e nunca colchas compridas onde possa tropeçar ao levantar-se;
Instale, se possível, um interruptor de luz próximo da cama;
Na cozinha utilize um carrinho com rodas para facilitar o transporte da comida e das loiças até à mesa de refeições;
Coloque os utensílios de uso frequente nos locais de mais fácil acesso.
Se necessitar trocar uma lâmpada ou retirar algo do cimo de uma estante ou armário, solicite ajuda a um familiar ou vizinho. Não suba a bancos ou a escadotes;
Introduzir caixas adequadas para a distribuição de medicamentos. Muitos medicamentos têm a mesma cor, podem ser confundidos e ingeridos inadequadamente;
Ter uma caixa de primeiros socorros básica: ligaduras, soro fisiológico, compressas, Iodopovidona (vulgo betadine), pensos rápidos, luvas descartáveis, tesoura e pinça.

"A prevenção é a melhor arma, sendo os hábitos saudáveis uma das medidas principais duma prevenção mais eficaz e eficiente. Para este efeito, as medidas apresentadas estão relacionadas não só com a mudança de comportamentos e hábitos do indivíduo tanto a nível físico, psicológico e social, mas também, com melhorias em condições habitacionais mais seguras”

CONCLUSÃO
A vida independente é consequência de conseguirmos fazer as coisas que queremos fazer, quando precisamos de as fazer. Para permanecer independente a pessoa precisa de ser capaz de se dobrar, levantar, transportar objetos, guiar, caminhar, de fazer as suas compras diárias, a sua higienização, etc.
Os hábitos saudáveis, como a alimentação adequada e a atividade física, são fundamentais para manter a saúde física e psicossocial, confluindo para uma maior independência e uma melhor qualidade de vida, à medida que se avança na idade. Permanecer fisicamente ativo e flexível ajuda as pessoas a manterem-se relativamente fortes, fazendo com que o corpo envelheça mais lentamente. Com base nesta minha experiência deixo uma mensagem a esta população mais idosa: ativem a vossa elevada sabedoria para se cuidarem, cuidarem--se uns dos outros, e aproveitarem o ainda muito da vida para se divertirem e serem felizes! Termino destacando a sabedoria de Maria Dionésia Santos da Silva (formanda), “Ser idoso é ter a coragem de olhar para frente e dizer que traz consigo um mundo de conhecimento. Ser idoso é ser gente. Ser idoso é poder dizer que tem a dádiva da vida e o poder da mente.”

Referências Bibliográficas
CMC - Divisão de Saúde e Segurança no Trabalho (2018). Relatórios de Sinistralidade. Câmara Municipal de Cascais. Lisboa
Euromonitor International (2019). Portugal overtakes Germany to become the fifth ageing country in the world. London. United Kingdom. Acedido em 29.03.2019 https://blog.euromonitor.com/the-top-5-oldest-countries-in-the-world/
PORDATA - Base de dados Portugal Contemporâneo (2017). Números de Portugal – Quadro Resumo. Lisboa. Fundação Francisco Manuel dos Santos. Acedido em 29.03.2019 https://www.pordata.pt/Portugal

Segurança Comportamental

A revista Segurança Comportamental é uma revista técnico-científica, com carácter independente, sendo a única revista em Portugal especializada em comportamentos de segurança.

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