A grande pergunta que profissionais e empresas constantemente se deparam é sobre como desenvolver uma cultura de segurança do trabalho que possa dar sustentação e efetividade para as diversas iniciativas de prevenção de acidentes que são implementadas em seu dia-a-dia.
A resposta pode vir de vários modos, ferramentas e metodologias, porém existe um consenso de que o envolvimento da liderança é peça fundamental para o sucesso dessas iniciativas (Alves & Miranda, 2013).
Porém ocorre que em muitas empresas, principalmente nos níveis de supervisão e coordenação chamada de liderança de primeira linha (Couto, 2009) não possuem o conhecimento, vivência e até mesmo a consciência da importância do seu papel como elemento de transformação da cultura de segurança.
Na maioria das vezes esses profissionais que ocupam os cargos de liderança de primeira linha são excelentes técnicos em sua área de atuação mas deixam a desejar nos aspectos de relacionamento e influência positiva em sua equipe ou colegas de trabalho.
E é exatamente nesse contexto que as metodologias de desenvolvimento pessoal podem auxiliar esses líderes a buscarem essas competências necessárias para atuarem como elemento de transformação da cultura.
COACHING COMO FERRAMENTA PARA DESENVOLVIMENTO DA LIDERANÇA PREVENCIONISTA
Uma das melhores ferramentas da atualidade é o coaching que se apresenta como um processo eficaz para desenvolvimento pessoal e atingimento de resultados (Whitmore, 2013).
O coaching de segurança customizado para o desenvolvimento do líder pode auxiliar efetivamente a elevação da cultura de segurança nas empresas. Isso acontece porque durante o processo são trabalhados os seguintes aspectos:
Autoconhecimento;
Autoliderança;
Planejamento;
Visão sistêmica;
Comunicação eficaz;
Melhoria contínua;
Capacidade de dar feedback entre outras competências.
Essas competências são muito úteis quando consideramos que essa liderança é que está mais próxima da base operacional onde são efetivamente desenvolvidas as atividades e consequentemente onde ocorrem a exposição aos riscos mais elevados.
A liderança prevencionista engloba então todos os profissionais que possuem uma grande interface com a base operacional, seja pela sua posição hierárquica ou natureza da sua atividade, normalmente dividida em 3 grupos :
Gestores: pessoas com cargo de gestão possuem uma grande responsabilidade pela segurança dos seus subordinados e naturalmente são avaliados pelos resultados de sua equipe e pela implantação de práticas seguras de trabalho. Neste grupo está toda a hierarquia da empresa, começando pela presidência, passando pela diretoria, pelos gerentes e pelos supervisores e coordenadores, sendo estes últimos os profissionais com maior capacidade de promoção da mudança comportamental, devido à sua proximidade da base operacional dos trabalhadores.
Profissionais de segurança: pessoas que possuem a segurança do trabalho como ofício, são os integrantes do SESMT – Serviço Especializado de Segurança e Medicina do trabalho. Neste grupo estão os engenheiros e técnicos de segurança do trabalho, médicos e enfermeiros do trabalho e demais profissionais que integram a equipe responsável pela rotina de segurança do trabalho, nas empresas.
Influenciadores: pessoas que desenvolvem atividades com alta interface e influência nas empresas, tais como cipistas, instrutores, inspetores ou demais pessoas que podem atuar como formadores de opinião.
PROCESSO DO COACHING DE SEGURANÇA DO TRABALHO
O processo clássico de coaching ocorre através do encontro de um profissional com base sólida sobre comportamento humano denominado coach, com uma ou mais pessoas denominadas coachees, firmando assim uma parceria de sucesso que envolve autoconhecimento, definição clara de metas e incorporação de novas habilidades que o colocam em ação no caminho correto gerando assim mudança e aprendizado.
Como um dos desafios é desenvolver na liderança o seu protagonismo, empoderamento e transposição do conhecimento (Bley, 2014) , o coaching aplicado à segurança deve iniciar com o questionamento sobre o verdadeiro papel de cada líder.
Em nossa atuação em grandes empresas, adaptamos uma metodologia baseada em técnicas de coaching individual e coaching em grupo para contribuir com o processo de desenvolvimento da liderança, formada por 5 verbos :
1 – Assumir
2 - Aprender
3 – Interagir
4 – Autoavaliar
5 – Aprimorar
Figura 1: Metodologia Programa Líder Prevencionista
(marca registrada COLABOR Consultoria e Treinamentos Ltda )
1 – Assumir
O primeiro passo está relacionado ao Assumir, ou seja, a desenvolver no líder a responsabilidade sobre o seu próprio papel de promotor da cultura de segurança em sua equipe, entendendo que possui um dever de impactar positivamente nas pessoas do seu ciclo de relacionamento.
O processo de Assumir passa por uma decisão de tomar a segurança do trabalho como um valor verdadeiro, que é manifestado em suas posturas e decisões diárias.
2 - Aprender
O segundo passo é o Aprender, pois para poder influenciar pessoas ele terá que desenvolver novas competências, sejam elas relacionadas às técnicas e ferramentas de prevenção de acidentes, requisitos normativos e técnicas de relacionamento interpessoal.
3 – Interagir
O terceiro passo é o Interagir, que se apresenta como a etapa mais importante de todas, pois é neste estágio que o líder prevencionista irá relacionar-se com a as pessoas de maneira assertiva.
É nesse processo de interação que o líder irá atuar como promotor da cultura prevencionista, como instrutor e como motivador, direcionando a equipe para o caminho correto.
Esta interação deve estar presente em todas as oportunidades diárias onde o líder pode ensinar, motivar, corrigir e dar feedback para sua equipe, auxiliando-os a encontrar o melhor caminho para prevenção de acidentes.
4 – Autoavaliar
A quarta etapa, passa por um processo de autoconhecimento do líder que visa avaliar o seu próprio desempenho durante as interações realizadas com a sua equipe.
Nesta etapa o líder faz a sua autoavaliação com relação a eficácia da sua interação, ou seja, ele se pergunta se conseguiu atingir o objetivo esperado, seja na clareza do repasse de suas informações, seja na motivação ou na promoção da mudança de postura de sua equipe.
5 – Aprimorar
Na quinta etapa o líder prevencionista busca Aprimorar o seu desempenho, desenvolvendo novas competências para interações melhores e mais efetivas.
"Metodologia baseada em técnicas de coaching individual e coaching em grupo para contribuir com o processo de desenvolvimento da liderança formada por 5 verbos: Assumir, Aprender, Interagir, Autoavaliar, Aprimorar."
Em termos práticos o processo de coaching de Segurança que desenvolvemos possui uma estrutura com as seguintes características:
1. Briefieng
Trata-se de um criterioso levantamento de resultados, indicadores, políticas, ferramentas, perfil dos profissionais e características locais para poder desenhar um processo customizado para cada empresa. Muitas vezes o trabalho se inicia com um diagnóstico da cultura de segurança, para poder entender em que ponto a empresa se encontra e onde ela quer chegar.
2 – Workshop Líder Prevencionista
Trata-se de eventos de capacitação onde a liderança é convidada a Assumir efetivamente o seu papel através de um verdadeiro coaching em grupo onde existe a sensibilização e compromisso com o desenvolvimento da cultura. Além disso nos workshops já inicia-se o processo de reconhecimento das competências do que será necessário Aprender.
3 – Atuação Assistida
Trata-se do processo de coaching individual onde cada líder será acompanhado por um período por um coach que irá auxiliá-lo no processo de Interagir positivamente com os demais colaboradores nas diversas oportunidades do seu dia-a-dia. A cada nova interação o coach irá contribuir também para que o líder possa Autoavaliar fazendo os questionamentos adequados e promovendo a reflexão. A partir daí é feito um compromisso de Aprimorar o próprio desempenho na próxima interação.
Assim, a metodologia apresenta a formação clássica do modelo PDCA (Plan, Do, Check, Act) de melhoria contínua, formando um ciclo virtuoso de melhoria partindo do ato de Assumir o seu papel, Aprender o que for necessário, Interagir assertivamente e se Autoavaliar de maneira sincera para então poder Aprimorar, melhorando o que for preciso, e rodando assim de maneira contínua esse ciclo de excelência.
FATORES DE SUCESSO DO COACHING DE SEGURANÇA
Conforme Lafraia (2007) os pilares básicos dos sistemas de gestão de segurança são:
Liderança pelo exemplo e compromisso visível;
Responsabilidade de linha;
Administração de desvios e incidentes;
Foco nas pessoas e na cultura;
Aprendizado e melhoria contínua;
Indicadores proativos;
Auditorias constantes.
Nesse sentido como o coaching de segurança tem como objetivo contribuir para a busca da excelência dos sistemas de gestão de segurança ele apresenta-se como uma excelente ferramenta auxiliando na melhoria dessas características. Com a implementação do coaching de segurança espera-se gradativamente uma evolução do líder prevencionista que é manifestada em uma melhor qualidade das interações e que consequentemente poderão levar a melhores comportamentos da base operacional que é o traço determinante para a elevação da cultura.
Porém para se obter sucesso com o uso dessa ferramenta deve-se atentar aos seguintes itens :
Envolvimento da Alta Direção, pois é aqui que a liderança irá perceber que a competência prevencionista faz parte do que a empresa espera dele.
Customização baseada nas informações disponibilizadas no briefieng, pois assim a aplicação e percepção é mais direta.
Efetiva participação dos líderes, como se trata de um processo mais amplo é importante que haja uma dedicação para os eventos do programa.
Condução do processo por coaches especializados, pois além dos conhecimentos clássicos de coaching, se faz necessário que os mesmos conheçam e tenham vivência dos processos de liderança, percepção de riscos e ferramentas de SST para poderem ter uma atuação mais efetiva.
RESULTADOS ESPERADOS
Portanto espera-se que o coaching possa ser um aliado para o desenvolvimento da cultura de segurança nas empresas pois como já foi dito a liderança deve estar fortemente envolvida neste processo.
Deste modo existe uma oportunidade real de buscarmos uma melhor “qualidade” na aplicação das ferramentas de segurança, que na maioria das vezes são muito boas na sua essência, mas ao longo do tempo vão perdendo o brilho e se tornando uma mera burocracia que nada contribui para o vivo processo de prevenção de acidentes.
Esperamos que líderes melhores contribuam com a mudança do clima nas empresas, desenvolvendo a percepção de riscos, adoção efetiva das medidas de controle e principalmente despertando em todas as pessoas a interdependência onde todos possam cuidar de si, cuidar dos outros e permitirem ser cuidados.
Pois é somente através da cultura comportamental de interdependência associada às medidas clássicas de engenharia de segurança do trabalho que poderemos atingir o tão sonhado zero acidente.
Referências Bibliográficas:
Alves; Miranda, J. L. A (2013). Mudança Cultural Orientada Por Comportamento, Rio de Janeiro, Editora Qualitymark.
Whitmore, J. (2013). Coaching para Aprimorar o Desempenho, São Paulo, Editora Laselva
Bley, J. (2014). Comportamento Seguro, Belo Horizonte, Editora Artesã
Lafraia, J.R.B (2011). Liderança para Sms, Rio de Janeiro,Editora Qualitymark
Couto, H.A (2009). 70 Lições para o Supervisor de Primeira Linha, Belo Horizonte, Editora Ergo