Porque sabemos que todos os stakeholders terão que agir em prol de uma melhoria, também a Revista Segurança Comportamental quis contribuir com divulgação de informação através deste Caderno, com o objetivo de apresentar opiniões de representantes do Estado, das Empresas, dos Trabalhadores e da Academia. Nesta secção tivemos 100% de sucesso, já que todas as partes identificadas estão representadas.
Pedro Pimenta Braz, representante do Estado, considera que a integração de conteúdos nos currículos escolares e nos programas do ensino universitário é fundamental para que se crie uma cultura de segurança no país e se dê um grande passo civilizacional.
“As políticas de prevenção de riscos profissionais e de promoção
do bem-estar no trabalho devem
ser focadas no trabalho seguro, saudável
e produtivo, através do empenho de todos
os stakeholders do sistema
de segurança e saúde no trabalho.”
Luís Fernandes, representante da CIMPOR-Intercement (Empresas), afirma que os resultados de Portugal em termos de SST são consequência das financeiras deficitárias das empresas, falta de consciencialização dos responsáveis e falha no sistema de educação. Na implementação da cultura de segurança o essencial, para além de regras, procedimentos, etc., é a mudança de mentalidades e atitudes. Tal só se consegue se toda a cadeia de liderança da empresa for o “motor” da mudança de mentalidades, através da sua atitude, do seu exemplo, da sua persistência.
Sérgio Manuel, representante da EDP (Empresas), afirma que a cultura de segurança que é essencialmente reativa, consequência da quase ausência deste tema nos currículos escolares e de formação. Uma empresa que se pauta por uma política de zero acidentes tem obviamente de ter uma política de promoção de comportamentos seguros.
Arménio Carlos, representante da CGTP-IN (trabalhadores), diz que regra geral, a cultura de segurança em Portugal é baixa. A prevenção resulta de um equilíbrio entre equipamento de trabalho, regras e procedimentos adequados e factor humano, no entanto, não pode houver a valorização excessivamente o factor humano. A estratégia nacional de SST 2014-2020 está num limbo, cuja avaliação intermédia é desconhecida.
João Areosa, representante da academia, crê que a segurança e saúde no trabalho não é uma preocupação prioritária na cabeça dos empresários portugueses. A maioria das empresas ainda não percebeu que a promoção através do fator humano é a solução economicamente mais vantajosa.
Tendo em conta a informação e os dados transmitidos pelos entrevistados, parece-me que a solução maior para a resolução deste desafio ao qual a segurança e saúde se depara em Portugal, passa por uma ação concertada do Estado, nomeadamente com a integração de mais uma peça de puzzle que se chama Ministério da Educação. Sem esta peça, as Empresas terão dificuldade em atingir uma cultura de segurança do nível de interdependência (cuidado mútuo), os Trabalhadores veem-se a braços com um nível de exigências perante as quais não se identificam culturalmente, a Autoridade continuará a ter necessidade de ser um papel mais inspetivo do que preventivo, e, a Academia produz conhecimento técnico-científico que as organizações não terão condições de aplicar.
Outras questões terão que mudar também. Há que revisitar e alterar o modelo atual do sistema de segurança e saúde no trabalho implementado em Portugal há umas décadas. Sou de opinião que o mesmo está ultrapassado e não satisfaz a realidade atual.