No referido relatório verifica-se ainda que, apesar das ações tomadas na sequência do estudo encomendado, em 2012, pela ANSR ao Centro de Análise Económica de Regulação Social (CARS) da Universidade Autónoma de Lisboa, “primeira fase para uma análise posterior sobre as causas dos acidentes de tráfego, o que permitirá a concretização de políticas que levem à sua minimização a fim de contribuir para a maximização do bem estar social”2, a sinistralidade com vítimas tem vindo a aumentar anualmente e a redução na mortalidade em relação a 2012 aparenta não estar consolidada.
As estatísticas da sinistralidade rodoviária indicam que as boas vontades políticas, as sucessivas revisões do código da estrada, as campanhas preventivas pontuais e o tipo de fiscalização efetuada, não são suficientes para reduzir significativamente esta calamidade nacional. Não podemos desvalorizar o facto de que, segundo Carlos Barbosa, presidente do Automóvel Clube de Portugal (ACP), “conduzir um carro é como ter uma arma na mão e há que saber utilizá-la de forma segura”.
Urge ter coragem para mudar o paradigma da segurança rodoviária e consequentemente melhorar a cultura preventiva dos portugueses. É premente definir estratégias que permitam encaminhar os jovens, desde tenra idade, para a adoção de comportamentos seguros a todos os níveis e consciencializar efetivamente os atuais utilizadores da via publica para as consequências dos seus comportamentos.
“As estatísticas da sinistralidade rodoviária indicam que as boas vontades políticas, as sucessivas revisões do código da estrada, as campanhas preventivas pontuais e o tipo de fiscalização efetuada, não são suficientes para reduzir significativamente esta calamidade nacional.”
Circular na via pública é um risco. Como tal qualquer estratégia terá de ter em consideração esse facto. Identificar e avaliar o risco, seja para construir algo novo, seja para corrigir o existente, seja para formar os interessados, é imprescindível para a tomada de decisão e aumento da segurança.
Incluir a prevenção dos riscos nos currículos escolares, incluir a temática comportamental na formação dos condutores, formar em prevenção rodoviária quem planeia as vias públicas, implementa passagens de peões, define sinalética, dar prioridade à fiscalização preventiva em detrimento da repressiva, dar visibilidade à prevenção rodoviária na prevenção dos riscos profissionais, divulgar insistentemente nos media as alterações ao código da estrada, desenvolver campanhas continuas direcionadas à melhoria comportamental, são algumas das ações imprescindíveis para uma mudança cultural focada na segurança rodoviária.
A movimentação na via pública é parte integrante da sociedade. As pessoas conhecem os riscos, mas muitas vezes não os percecionam devidamente, conhecem as regras preventivas, mas tendem a facilitar. Qualquer ação para melhoria da cultura rodoviária tem, obrigatoriamente, que envolver todos os interessados e seus representantes. Como parte interessada na redução da sinistralidade rodoviária a Revista Segurança Comportamental convidou quatro entidades para participarem neste caderno através de entrevistas, em representação do Estado, da Academia, dos Transeuntes e Automobilistas. Apesar de todos terem expressado a pertinência deste Caderno e confirmado a presença, somente o Automóvel Clube de Portugal (ACP) como representante dos Automobilistas é que efetivamente disponibilizou tempo e recursos para a concretização da entrevista.
Um acidente interrompe a vida total ou parcialmente. Prevenir os acidentes é um direito e um dever de todos!
1 Observatório de Segurança Rodoviária (2017) Principais Indicadores de Sinistralidade no Continente [http://www.ansr.pt/Estatisticas/RelatoriosDeSinistralidade/Documents/2017/RELAT%C3%93RIOS%20MENSAIS%20-%20V%C3%8DTIMAS%20A%2024%20HORAS/Rel_NOV_2017.pdf], consultado em 16.02.2018.
2 Donário, Arlindo et al. (2012) Custo Económico e Social dos Acidentes de Viação em Portugal, [http://www.ansr.pt/SegurancaRodoviaria/Publicacoes/Documents/Custo%20dos%20Acidentes%20de%20Via%C3%A7%C3%A3o%20-%20Miolo%20-%20FINAL12.pdf], consultado em 16.02.2018.