Este trabalho objetivou identificar contribuições da psicologia no que se refere à percepção humana e sua influência na prevenção de acidentes de trabalho e ocorrência de comportamentos seguros. Através de estudos do processo perceptivo e tomadas de decisão, baseados no modelo de Wagner e Hollenbeck (2009), evidenciou-se a contribuição da psicologia como auxiliar nos processos de ampliação da percepção de riscos no trabalho. Outros autores como Dela Coleta (1991) e Bley (2006), foram fundamentais. O modelo de intervenção nas organizações foi criado considerando-se os diferentes produtos que o SESI – Serviço Social da Indústria, do Rio Grande do Sul, Brasil. Este estudo demonstrou novas e ampliadas formas de atuação dentro das organizações para que uma melhor percepção de riscos possa contribuir com a melhoria da segurança e da qualidade de vida dos trabalhadores.
A industrialização trouxe novas formas de organização do trabalho e o aumento da possibilidade de ocorrência de acidentes (Bley, 2006; Gonçalves & Dias, 2011). As causas de acidentes de trabalho são muitas e alguns autores (Dela Coleta, 1991; Gonçalves & Dias, 2011) consideram que há uma multiplicidade de fatores influenciadores. São questões psicossociais e ambientais agindo de forma sistêmica que geram tais situações.
Os riscos são diversos, mas a psicologia do trabalho relata os fatores humanos como os principais causadores de acidentes (Dela Coleta, 1991).
Salvar vidas, prevenindo acidentes de trabalho, é potencialmente saudável a qualquer organização e a todos aqueles envolvidos com ela. E para que a psicologia possa trazer contribuições na prevenção de acidentes é preciso saber quais os fatores individuais presentes nestas ocorrências para que, na prática, haja incentivo à prevenção dos acidentes de trabalho.
Estudos
De acordo com diferentes autores, Dela Coleta (1991), Bley e Kubo (2003), Zócchio (2002), Correa e Cardoso (2007) e Almeida e Filho (2007), a causa de maior relevância na ocorrência dos acidentes de trabalho, refere-se ao comportamento humano. Sob esta perspectiva e de acordo com estudos realizados, a influência da percepção nos acidentes é amplamente citada: Bounassar, Salavessa e Uva (2007), Correa e Cardoso Júnior (2007), Peres et. al (2004), Roberto et. al (2003), Bley (2006), Motta (2002) e Dela Coleta, (1991), entre outros.
Davidoff (2001) descreve a percepção como processo cognitivo elementar, pois é nela que cognição e realidade entram em contato. A partir daí o nosso mundo toma forma, pois é possível interpretar os estímulos recebidos pelos órgãos dos sentidos e responder às situações cotidianas.
Segundo Bley (2006), a percepção de riscos refere-se à capacidade individual de dar significado aos riscos e perigos do ambiente de trabalho. Considerando que cada pessoa possui um modo particular de percepção, presume-se que o risco percebido seja diferente do risco real. Essa diferença na área da segurança do trabalho, pode culminar no aumento ou redução de acidentes. São as influências das distorções perceptivas.
Para reduzir a possibilidade das distorções perceptivas, entende-se que um dos caminhos esteja na ampliação do campo perceptivo. Como referem Wagner e Hollenbeck (2009) “existem muitas maneiras pelas quais um observador [comportamental] pode deixar de retratar com precisão o ambiente. Felizmente, também existem muitas medidas bem conhecidas que podem ser tomadas para evitar esses problemas.” (p. 65) Estes autores descrevem maneiras de minimizar as possibilidades de distorções perceptivas, ampliando o campo perceptivo. Destacam-se:
- Aumentar a frequência de observações e a exposição do indivíduo àquilo que é necessário perceber.
- Considerar observações de diferentes pessoas e perspectiva.
Baseado nisso, surge o modelo abaixo:
O modelo de intervenção baseia-se no pressuposto de que, para reduzir a ocorrência de comportamentos inseguros, propõem-se ações que levem os indivíduos a reconhecerem o funcionamento do seu processo perceptivo, evidenciando possíveis distorções.
O SESI, que trabalha com questões prevencionistas relacionadas à segurança e saúde no trabalho, possui produtos que auxiliam na ampliação da percepção de riscos.
Serviços de atendimento básico às indústrias e de solicitação legal como o PPRA – Programa de Prevenção aos Riscos Ambientais, PCMSO – Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional, Curso de CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, Análise Ergonômica, campanhas de segurança focadas na área da construção civil e palestras de temáticas variadas em SIPAT – Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho, são exemplos da atuação do SESI. A forma de elaboração participativa com empresa e funcionários, tem feito destes produtos uma oportunidade para, inclusive, ampliar a percepção de riscos facilitando sua disseminação e discussão. Entende-se que trabalhadores que reconhecem os riscos no ambiente laboral tenham maior possibilidade de comportar-se de forma segura pois, ampliar o número de informações é garantir a veracidade destas, influencia para posteriores decisões que venham prevenir os acidentes de trabalho.
Além das atividades que são realizadas pelo SESI, há outras possibilidades de atuação, de acordo com cada empresa, já que este é um modelo passível de customização.
Conclusões
O modelo de intervenção instiga diferentes formas de atuação para a prevenção de acidentes de trabalho, atingindo as hierarquias da empresa e com intenção de desenvolver uma cultura organizacional baseada na prevenção contínua de acidentes, com a consequente promoção da saúde e bem-estar do trabalhador. É uma proposta que considera o trabalhador como ser humano, que tem seu funcionamento individual, mas também depende da rede de relacionamentos e ambientes. É um modelo que pode descobrir e desenvolver potencialidades, melhorar o ambiente de trabalho e que pode salvar vidas. Não apenas pelo fato de prevenir acidentes de trabalho, mas por proporcionar às pessoas o conhecimento e desenvolver nelas, a busca contínua por comportamentos seguros.
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